domingo, 3 de dezembro de 2023

#02 - PODEMOS CONHECER DEUS?

Sem dúvida nenhuma, podemos conhecer Deus. Isso só é possível porque ele se revelou a nós. Não temos, por nós mesmos, como conhecê-lo, pois, se Deus é espírito, o totalmente outro, o criador de todas as coisas, onisciente, onipotente e onipresente, ele é um ser de outra ordem. Assim, para chegarmos a conhecer Deus, teríamos de ser muito parecidos com ele, ou ter acesso a ele de alguma maneira — talvez pela razão. O problema é que a razão se encontra, hoje, manchada pelo pecado. O ser humano de nossos dias não raciocina como no início, por conta dos “efeitos noéticos do pecado”. A transgressão afetou a capacidade do homem de entender as coisas de Deus. Além disso, sendo ele espírito, não se pode conhecer o Criador por meio dos sentidos, que são as portas humanas para o conhecimento. Portanto, não há possibilidade de se conhecer a Deus, quem ele é ou ao que se propõe, simplesmente refletindo sobre isso ou tentando de alguma forma ter uma experiência sensorial com Deus. Há quem ache que observando a natureza, já que ela é algo criado pelo Senhor e provém dele, seria possível entender quem ele é. O nome disso é teologia natural, a tentativa de formular alguma coisa sobre Deus a partir da observação da natureza. Mas é um conhecimento muito confuso, basta observar a história das religiões: pela observação da natureza, as pessoas chegam a diferentes conclusões. Uns acabam adorando a própria natureza, como se ela fosse Deus; outros acham que a natureza é Deus e Deus é a natureza (um pensamento que chamamos de panteísmo ou panenteísmo). Logo, fica-se perdido na tentativa de imaginar quem é Deus ou descobrir quem ele é a partir de nós mesmos. A Bíblia diz que, no início de todas as coisas, quando Deus criou o primeiro homem e a primeira mulher, esse problema não havia. A humanidade se relacionava com Deus sem impedimentos. A natureza humana não conhecia o pecado, era pura, inocente, santa, assim como Deus é. E havia, então, essa comunicação mútua entre Deus e o ser humano. Mas a Escritura também nos diz que, depois que o primeiro casal virou as costas para o Criador, a humanidade perdeu a capacidade de se relacionar com Deus e de entender as coisas divinas. O apóstolo Paulo diz que o homem natural não aceita as verdades do Espírito de Deus, pois elas lhe parecem loucura, e ele não consegue entendê-las, pois apenas quem é espiritual consegue avaliar corretamente o que diz o Espírito (1Co2.14). O homem natural rejeita a revelação que Deus faz de si mesmo e, consequentemente, substitui a revelação divina por sua própria concepção a respeito de Deus. E isso é um mecanismo falho, pois, por mais que tentemos, nunca chegaremos a conhecer Deus por nós mesmos. É interessante que a Bíblia diz que o ser humano está cego, morto para as coisas de Deus, quando se refere a ele no seu estado natural. A Escritura afirma que o homem é incapaz de ver a Deus, de conhecê-lo e se relacionar com ele, justamente porque o pecado nos separa do Senhor: “Vocês estavam mortos por causa de sua desobediência e de seus muitos pecados, nos quais costumavam viver, como o resto do mundo [...]. Todos nós vivíamos desse modo, seguindo os desejos ardentes e as inclinações de nossa natureza humana” (Ef 2.1-3). Isaías diz que Deus está pronto para nos ouvir e nos atender, mas os nossos pecados fazem separação entre nós e ele (Is 59.2). Logo, há este grande empecilho para se conhecer a Deus: o ser humano no estado em que se encontra, marcado pelo pecado, pela desobediência e pela rebeldia de seu coração, não tem como conhecê-lo por si mesmo. Ele não pode entender Deus ou defini-lo como faz com os fenômenos naturais, os quais analisa e compila, para os quais elabora hipóteses, que ele testa em laboratório e para os quais ele, finalmente, formula conclusões acerca do que pode ser uma lei ou uma definição. Deus não se sujeita a isso, porque ele é espírito, eterno, totalmente outro da criação, diferente, transcendente. Ele não se encaixa em nossas categorias de definição. Mas ele se revelou. Na sua misericórdia, no seu grande amor, Deus se deu a conhecer. Ele fez isso por meio de uma nação, Israel, a quem escolheu para revelar-se ao mundo. E de Israel veio Jesus, a encarnação plena, completa e perfeita de Deus. É Deus feito carne, é a expressão exata do ser de Deus. Em Jesus Cristo, Deus veio ao nosso encontro, se deu a conhecer a nós, andou conosco, participou da nossa vida e da nossa humanidade. Em Jesus temos a maior revelação de Deus, a revelação final. Deus encarregou alguns dos que andavam com Jesus de escrever essa revelação. O Novo Testamento é exatamente isso. Os evangelhos são o testemunho que os apóstolos nos deram, por escrito, da vida e da obra de Jesus. Atos, por sua vez, é o relato de como aqueles primeiros discípulos viveram à luz da morte e ressurreição de Jesus. As cartas que os apóstolos escreveram deram as interpretações, autorizadas por Deus, do significado da morte e da ressurreição de Jesus Cristo. E Apocalipse nos fala a respeito da segunda vinda de Jesus e do encerramento de todas as coisas. Em resumo: é possível conhecer Deus? Sim, é, mas somente à medida que ele se revela a nós na pessoa de Cristo, conforme registrado nas Escrituras.

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