domingo, 3 de dezembro de 2023

#03 - A TRINDADE É UMA DOUTRINA BÍBLICA?

 O cristianismo histórico não afirma que há três deuses, mas um só. Porém, em seu ser subsistem três pessoas distintas, sendo Deus cada uma dessas pessoas. Isso sem que seja um Deus de três cabeças, três deuses no mesmo ser ou mesmo três manifestações diferentes de um mesmo Deus. É o que chamamos de mistério. Essa concepção da Trindade se baseia em diversas passagens bíblicas que afirmam a existência de um só Deus. Em Deuteronômio, temos a famosa passagem que diz que o Deus de Israel é o único Senhor (Dt 6.4-5). Aliás, o Antigo Testamento como um todo diz que só há um Deus. Os deuses pagãos são fruto da imaginação humana e, por essa razão, não podem salvar, não podem ouvir, não podem atender. Há um só Deus, criador do céu e da terra, que é o Deus de Israel, o de Abraão, Isaque e Jacó. O monoteísmo é claramente afirmado no Antigo Testamento. Inclusive, o primeiro mandamento diz: “Eu sou o SENHOR, seu Deus, que o libertou da terra do Egito, onde você era escravo. Não tenha outros deuses além de mim” (Êx 20.2-3). Quando se chega ao Novo Testamento, a mensagem continua: “Há um só Deus...” (1Tm 2.5). Os dois Testamentos são totalmente monoteístas, insistindo sempre que só há um Deus e não há outro além dele. Porém, já no Antigo Testamento e, muito mais claramente, no Novo Testamento, se percebe que há três pessoas referidas como Deus e que são distintas. Encontramos no Antigo Testamento um ser que se chama “anjo do SENHOR”, enviado pelo Deus de Israel, mas que recebe adoração, fala como se fosse Deus, aceita que aqueles a quem ele ministra se curvem a ele, o adorem e lhe façam petições. Encontramos referências já no Antigo Testamento sobre o Espírito de Jeová, que se entristece, que acompanhou o povo de Deus na peregrinação no deserto. Quando chegamos no Novo Testamento, essa revelação fica ainda mais clara. Não somente o Pai é referido como Deus, como também continuamos encontrando referências ao Espírito Santo como sendo divino — além, é claro, da pessoa de Jesus. No famoso episódio de Atos 5 acerca de Ananias e Safira, Pedro diz: “Ananias, por que você deixou Satanás encher seu coração? Você mentiu para o Espírito Santo quando guardou parte do dinheiro para si. A propriedade era sua para vender ou não, como quisesse. E, depois de vendê-la, o dinheiro também era seu, para entregar ou não. Como pôde fazer uma coisa dessas? Você não mentiu para nós, mas para Deus!” (At 5.3-4). Há, pois, plena identificação do Espírito Santo como sendo Deus. Várias passagens do Novo Testamento se referem a Jesus como sendo Deus encarnado, Deus entre nós. Para mencionar apenas uma: o início do Evangelho de João diz que, no princípio, Jesus já existia, estava com Deus e era Deus, e que, por meio dele, Deus criou todas as coisas, e sem ele nada foi criado (Jo 1.1-5). Considerando tudo isso, identificamos passagens bíblicas que revelam haver somente um Deus, outras que se referem ao Pai como sendo Deus, outras, ainda, que destacam a divindade do Espírito Santo e outras, por fim, que se referem a Jesus como Deus. Assim, depois de muito debate e de alguns concílios, os teólogos chegaram à conclusão de que se trata de um mistério, para o qual não há capacidade de racionalização e entendimento de nossa parte. Há um só Deus, mas no ser de Deus subsistem três pessoas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo, que são igualmente divinas e possuem os mesmos honra, glória, poder e majestade. Portanto, as três pessoas divinas devem ser servidas, adoradas e obedecidas e nelas devemos crer, sem que, com isso, constituam um Deus de três cabeças, três deuses ou três manifestações do único Deus. Trata-se do Deus trino que se revela a nós na Palavra de Deus. Sempre houve à margem do cristianismo quem negasse a divindade do Filho de Deus, Jesus Cristo, bem como a do Espírito Santo. É o caso do movimento “unitário”, ou “unista”, que é muito antigo e considerado herético. Um unitarista não pode ser entendido como cristão, uma vez que a base do cristianismo é a pessoa de Cristo, sendo Jesus verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Se alguém nega a divindade de Cristo, está teologicamente fora dos limites do cristianismo histórico. Há seitas, como a Testemunhas de Jeová e a dos mórmons, que são unitaristas. Portanto, a negação da divindade de Cristo distingue o cristianismo histórico das seitas. Outro argumento que poderíamos apresentar é que, embora a palavra “Trindade” não apareça na Bíblia, encontramos as três pessoas divinas tratadas igualmente como Deus e a ele associadas. Por exemplo, no batismo de Jesus, às margens do rio Jordão, lemos que, quando ele entrou na água, os céus se abriram, o Espírito Santo desceu sob a forma de pomba e uma voz vinda do céu disse: “Este é meu Filho amado, que me dá grande alegria” (Mt 3.17). Aqui temos uma cena trinitária. Na ordem: o Filho, o Espírito e o Pai. Juntos no mesmo quadro, no mesmo evento. Mais adiante, após a ressurreição, Jesus diz aos discípulos: “Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28.19). Ora, o próprio Jesus mandou que os discípulos fossem batizados em nome das três pessoas da Trindade. Com isso, Jesus quis dizer que as três são iguais, têm a mesma honra e que devemos nos identificar com cada uma delas. O apóstolo Paulo, que era um judeu comprometido, muito zeloso em sua fé judaica, conheceu o Senhor Jesus no caminho para Damasco. Em suas cartas encontramos vários textos trinitarianos, como: “Todo louvor seja a Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou em Cristo com todas as bênçãos espirituais nos domínios celestiais” (Ef 1.3). Em seguida, Paulo diz que Jesus tomou a forma humana e, com seu sangue, nos libertou de nossos pecados. Ele prossegue, dizendo que o Espírito Santo sela o nosso coração quando ouvimos essas verdades. Portanto, vemos em Efésios 1 o desenvolvimento da história da redenção de forma trinitária. O Pai planejou, o Filho executou e o Espírito Santo aplica, hoje. E mais: Paulo afirma, em 1Coríntios 12.4, que há um Senhor que concede os ministérios e há um só Deus que realiza essas coisas. Essa é mais uma passagem trinitária. Poderíamos citar muitas outras passagens em que o Pai, o Filho e o Espírito Santo aparecem associados na Bíblia. Assim, mesmo que a palavra “Trindade” não exista na Escritura, a conclusão a que chegamos estudando a Bíblia é que há uma Trindade divina. A doutrina está claramente discernível. O nosso Deus, nosso único Deus verdadeiro, é trino, ou seja, ele subsiste na forma ou na pessoa do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Os três são distintos: o Pai não é o Filho; o Filho não é o Pai; e os dois não são o Espírito Santo, mas os três são o mesmo Deus. Essa é uma doutrina fundamental para o cristianismo histórico. As seitas unitárias afirmam que Jesus foi criado por Deus Pai, que seria um deus menor ou um anjo que visitou nosso planeta. Dizem, ainda, que os discípulos se equivocaram ao adorar Jesus e que, ao lhe dirigirem orações, oraram ao Pai em nome dele. Porém, quando se nega a Trindade, se nega a divindade de Jesus e a pessoalidade do Espírito Santo. Quem defende tais ideias terá de explicar sobre o Espírito Santo, já que não admite sua pessoalidade. Daí dizem que se trata de uma “força”, uma “energia que vem de Deus”, uma “manifestação de Deus” e assim por diante. A única conclusão é que o unitarismo, que nega o conceito de Trindade, não pode ser considerado cristianismo.

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