sábado, 24 de agosto de 2019

#tbs_792 - O que é a Tabela das Nações?

Gênesis capítulo 10, comumente conhecido como a Tabela das Nações, é uma lista dos fundadores patriarcais de setenta nações que descenderam de Noé através dos seus três filhos - Sem, Cam e Jafé. Vinte e seis das setenta descendiam de Sem, trinta de Cam e catorze de Jafé. Gênesis 10:32 resume sucintamente o capítulo: "São estas as famílias dos filhos de Noé, segundo as suas gerações, nas suas nações; e destes foram disseminadas as nações na terra, depois do dilúvio." O Capítulo 11 conta sua divisão em Babel.

O texto parece implicar, embora nunca declare explicitamente, que a lista pretendia ser um relato exaustivo. Tradicionalmente tem sido interpretada como tal. No entanto, esta interpretação é especulativa.

Todas as genealogias bíblicas são resumidas. As figuras históricas mais importantes são incluídas, enquanto que os irmãos “menores” ou culturalmente menos relevantes são deixados de fora. É possível que tal seja o caso da Tabela das Nações. O compilador da Tabela pode ter focado seu estudo nas nações mais significativas para a sua própria nação no momento de sua compilação, enquanto negligenciava os fundadores de outras nações distantes, talvez até muito esquecidas. Embora todas as nações sejam relacionadas entre si através de Noé, este laço ancestral não perpetua indefinidamente o significado cultural mútuo entre seus descendentes.

Embora algumas das nações listadas sejam facilmente identificáveis, algumas permanecem obscuras. Numerosos estudiosos têm tentado identificar essas nações desconhecidas com vários graus de sucesso. Devido à natureza arcaica do material de origem, continua a haver ambiguidade considerável.

A precisão da Tabela foi questionada pelo fato de que algumas das relações descritas não coincidem com a linguística comparativa moderna. Por exemplo, diz-se que os elamitas sejam descendentes de Sem, mas seu idioma não era semítico. Diz-se que os cananeus descenderam de Cam, mas a língua deles era semítica.

Esta objeção pressupõe que essas línguas nunca experimentaram nenhuma mudança dramática. A história da região parece sugerir que esta seja uma suposição duvidosa. As culturas da região estavam constantemente sujeitas a migrações e invasões por potências estrangeiras. Os impérios conquistadores muitas vezes impuseram sua língua e sua cultura ao vencido.

A helenização do Império Persa após a conquista de Alexandre, o Grande, é um exemplo clássico. Ou considere os israelitas, que falavam principalmente o antigo hebraico até o cativeiro babilônico e a conquista persa. Então eles adotaram o aramaico, a língua oficial do Império Persa. O Talmude judeu foi escrito em aramaico, assim como grandes porções dos livros de Daniel e Ezra. Acredita-se que o aramaico tenha sido a língua nativa de Jesus. Após Alexandre conquistar a Pérsia, os judeus adotaram o grego como segunda língua. Como resultado, todo o Novo Testamento foi escrito em grego. As línguas da região não eram estáticas.

Os hebreus invadiram e conquistaram Canaã muito antes dos gregos, dos persas e dos babilônios. É surpreendente que os cananeus da região tenham adotado uma língua semítica quase idêntica ao antigo hebraico? Quanto aos elamitas, se quisermos fazer um caso da língua elamita, temos que começar com a proto-elamita. A proto-elamita permanece indecifrada, por isso não pode constituir a base para uma polêmica contra a Tabela das Nações. Não há provas de que a elamita não-semítica seja a base da proto-elamita, e não sabemos quais influências podem ter alterado o idioma a qualquer momento.

Uma outra objeção à Tabela das Nações é que várias das nações listadas não aparecem no registro histórico (como o temos hoje) até o primeiro milênio aC. Isso tem levado alguns estudiosos críticos a datarem a Tabela a não antes do século VII aC.

Esta é uma crítica recorrente da Bíblia. Em vez de dar à Bíblia o benefício da dúvida sempre que menciona uma cidade ou cultura que não apareça em nenhum outro lugar no registro histórico, ou sempre que coloca uma cultura em uma época que preceda qualquer outro registro que tenhamos de nossas outras fontes limitadas, os críticos geralmente supõem que os autores bíblicos eram faltosos ou ignorantes. Tal foi o caso da antiga metrópole de Nínive e da antiga civilização hitita do Levante, ambas as quais foram redescobertas nos tempos modernos, nos séculos XIX e XX, respectivamente, em uma notável reivindicação do testemunho histórico bíblico. O fato é que o nosso conhecimento de culturas antigas é extremamente fragmentado e, muitas vezes, depende de pressupostos fundamentais. Por conseguinte, é especulativo argumentar que a Tabela das Nações tenha sido escrita tão tarde com base unicamente no fato de que algumas das nações mencionadas não apareçam em nenhum outro lugar além dos registros históricos posteriores.

Uma última objeção está relacionada ao fato de que acredita-se que Ninrode tenha sido um filho de Cuxe (Gênesis 10:8), o qual se acredita ter fundado Núbia ao sul do Egito. No entanto, Ninrode estabeleceu várias cidades na Mesopotâmia que não mostram nenhum sinal de origem nubiana (Gênesis 10:8-12). Será que isso significa, como alguns críticos afirmam, que a Tabela esteja manifestamente errada, seja sobre a linhagem de Ninrode ou seu papel no estabelecimento das cidades da Mesopotâmia?

Os céticos que fazem este argumento ignoram o fato de que Cuxe também gerou os fundadores de pelo menos seis nações árabes (Gênesis 10:7), nenhum dos quais mostra sinais de origem nubiana. Isso ocorre porque a Núbia desenvolveu seu próprio caminho cultural ao longo de muitas gerações. Ninrode era um filho imediato de Cuxe. Não temos motivos para esperar que ele ou as cidades que ele ajudou a estabelecer mostrem qualquer sinal de origem nubiana. 

Em resumo, a Tabela das Nações apresenta a visão bíblica e etnológica de que todas as nações descendem de Noé através de seus três filhos - Sem, Cam e Jafé. Não se sabe se a lista de setenta era para ser exaustiva ou se algumas nações foram excluídas, intencionalmente ou acidentalmente. A precisão do que sabemos sobre a Tabela tem sido questionada por céticos cujas objeções polêmicas tendem a ser defeituosas e insustentáveis. Devido à natureza arcaica do material de origem, a veracidade da Tabela permanece, no fim das contas, indefinível. No final, aqueles que a aceitam fazem isso pela fé, dando por certo que ela faça parte de uma perspectiva maior e justificável. Aqueles que a rejeitam essencialmente fazem isso pelos mesmos motivos.

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